heide tatiana
2 min readAug 1, 2019

segura na minha mão e me ajuda a respirar. não deixa minha cabeça voar tão longe e pensar na dificuldade que é, mães pobres e jovens abandonadas com 4 filhos para criar e a vizinha que embora exausta tem um coração e aceita dividir o pão com os filhos da mãe solteira. como diz a carolina, a fome é professora e ensina a generosidade, mas é foda. segura na minha mão e não me deixa pensar tão longe e na dor do mundo só porque estou ansiosa por ficar 4 dias sozinha com duas crianças numa terra estrangeira. segura na minha mão e me faz sentir os meus pés no chão e não um fio de sangue que leva a minha pequena dor a dor maior de tantas mães que eu não posso resolver agora mas que, ainda assim, eu sinto através da minha janela norte que aponta para o sul e recebe sol durante todo dia. essa mesma janela que me salva no inverno e me acolhe no verão. que me permite ter um balde d’agua para as crianças brincarem durante o dia.

na verdade profunda da superfície, a única coisa que segura uma infância feliz é uma tina de água e sol. foi assim quando eu era a infância (e ainda haviam as amoras), mas é ainda mais importante agora, quando eu guardo a infância. guardar de assegurar. de cuidar. de garantir. em italiano guardare é olhar. e é isso. olho pelos meus. mas pelos meus olhos quero guardar o mundo e todas as infâncias e todos os guardadores. todas as guardiãs guardadas dentro de cada mãe sozinha. respiro. sinto meu pé esquerdo dormente e o assento do vaso na minha coxa. ontem/hoje é um dia de mudança. uma vida nova está nascendo. minha cabeça me alerta de que um padrão está prestes a morrer e o novo sempre vem já dizia a velha canção. mas é saber separar bem o lixo. encontrar a lixeira de cada coisa estragada dentro da gente. não basta jogar o pote sujo de iogurte nos plásticos. tem que passar uma água. e dependendo do nível de gordura vai ficar um tempo na pia até a coragem bater. e tá assim. quer dizer. tá tudo uma merda na geopolítica, mas dentro da gente até tem flor. tem gerânio e tem hibisco. como você me disse naquele áudio, é meu chá favorito. já me sinto melhor só em falar da pia, do hibisco e da geopolítica. só não posso pensar no amanhã. obrigada por segurar na minha mão.